Como escrever um artigo de ordem tão prática para o mímico e que reflita uma de suas maiores preocupações: a de criar e manter uma ilusão perfeita aos olhares afiados de seu público! - Essa é a missão de hoje.
Durante a minha trajetória nos palcos, artistas e alunos ficam deslumbrados com as técnicas da Mímica Clássica. Não é para menos: construir a olhos nus um objeto, um cenário, e, acima de tudo, mantê-lo vivo e potente, não é tarefa fácil. A ilusão é algo mágico e seu encantamento aproxima a figura do mímico de sua plateia.
No artigo A Mímica e a Pantomima exploro bastante o universo presente na Mímica Clássica, especialmente no que diz respeito à pantomima ? gênero este em que as falas são suprimidas e o ator se vale de seu corpo como instrumento para contar uma história silenciosa. Seus gestos ilustravam o imaginário e as ilusões eram desenhadas no espaço ? como pode ser conferido nas pantomimas recriadas para o filme Les Enfantes du Paradis, interpretado por Jean Louis Barrault e que tanto influenciou outra lenda do século XX, o francês Marcel Marceau.
Então, hoje, me dedico a escrever sobre os três fundamentos que garantem uma ilusão perfeita. São eles:
· A Filosofia da Mímica
· O Click
· A Identificação
PRIMEIRO FUNDAMENTO: A FILOSOFIA
?Louis, Mímica tem filosofia?? ? Ôh, se tem! Na Mímica Total, método que eu desenvolvo e pesquiso há 30 anos, a filosofia é um dos principais fundamentos na hora de criar um quadro de ilusão.
O filósofo René Descartes dizia ?penso, logo existo?. O mímico diz ?peso, logo existo?. Sim! O peso ? tudo tem um peso. Absolutamente tudo que você criar num espaço vazio terá peso. Desde um pequeno pedaço de papel até uma caixa de 20 kilos! Tudo sempre terá um peso.
Pensando nisto, é importante que você recorra a algumas estratégias na hora de deslocar sua ilusão pelo espaço: se tem um peso, a velocidade com que você movimenta um objeto de um lado para outro também é afetada. Quanto maior o peso, menor a velocidade!
SEGUNDO FUNDAMENTO: O CLICK
Peso definido, é hora de criar o objeto e movimentá-lo! Faça esse exercício comigo: imagine que tem uma mesa à sua frente. Sobre ela, um copo de água. Você deve pegar este copo e leva-lo até a boca, afinal, você está com sede!
Como criar a ilusão perfeita deste objeto e movimenta-lo mantendo esta ilusão? O click! Um pequeno espasmo, uma contração! Algo que acontece no seu pulso logo após você segurar o copo e fazer o impulso de tirá-lo da mesa!
Tudo tem um click: desde um grão de areia até o empurrar de um piano pesado! Para que você possa treinar este movimento, assista ao vídeo ?Como Criar uma Ilusão Perfeita ? Parte 1? no meu Canal do YouTube!
TERCEIRO FUNDAMENTO: A IDENTIFICAÇÃO
Pronto! Peso definido, click à postos! Tudo perfeito? Não!! Sem o princípio da identificação, a ilusão não se sustenta. Este princípio parte da premissa que ao tocarmos um objeto, a parte do nosso corpo que entra em contato com ele, se transforma nele.
Vamos para a clássica ilusão da parede: você deve tocá-la em toda a sua extensão com as mãos! Antes de tocar, a mão é mão. Ao tocar, as palmas das mãos se tornam parede! Tem um tônus muscular específico. Os dedos não estão moles, eles não atravessam o limiar do que seria a parede. Existe um respeito à ilusão construída e, acima de tudo, ela se mantém. Os dedos não afrouxam enquanto estiverem tocando a parede. A circunferência da mão não derrete enquanto estivermos segurando um copo!
Vamos treinar juntos? Fica meu convite para acessar, também, o meu vídeo ?Como Criar uma Ilusão Perfeita ? Parte 2? no meu Canal do YouTube. Treine e divirta-se!
Te espero!