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Mas afinal, por que saber a linguagem do corpo se eu não sou artista? Ou, se eu sou artista, para que pensar na comunicação do dia-a-dia e não me dedicar somente à expressividade artística do meu corpo?


Hoje venho bater um papo sobre este assunto tão complexo que é a comunicação e, fruto das minhas pesquisas, me proponho a compartilhar uma visão integral: a Comunicação Total. Para quem já está familiarizado com meu trabalho, voltado à Mímica Total, não será novidade pensarmos na integração corpo, mente e voz na área da Comunicação cotidiana, afinal, é esta comunicação que está presente nas suas relações de trabalho, familiares e pessoais. São nestas esferas, que você transita todos os dias e dar um passo atrás para observar a maneira como você tem se colocado frente às suas escolhas e decisões de vida pode ser de muita valia para garantir maior desenvoltura na profissão, em casa, com os amigos ou em novos contextos.


?Poxa, Luis, mas como esse assunto pode melhorar a minha vida?? ? Vamos começar! Primeiramente, gostaria de dizer que você não tem um corpo. Você é o seu corpo ? e isto sim, é muito importante ter consciência.


Quem observar a maneira como você anda, como você fala ao entrar numa sala, ou ao conversar com alguém, certamente vai ter à disposição, uma mina de ouro impressa no seu corpo: seus pensamentos, inconsciente, histórico de vida, trabalho... sim! Está tudo ali! E todas estas informações fazem parte de uma comunicação direta. Quem tem a habilidade em perceber estes indicativos ? esta comunicação, que extrapola as palavras ? consegue sair do padrão. Consegue se desvencilhar somente do que é dito ? as palavras, o verbo! Numa comunicação completa, para além da linguagem falada, existe a linguagem do corpo e do silêncio. Mesmo no silêncio, comunicamos. E muito!

Uma pesquisa feita pelo psicólogo Albert Mehrabian na década de 70 diz que em uma comunicação feita frente a frente, 55% do que se interpreta vem do seu corpo: a maneira como você gesticula, olha, se movimenta, expressa suas emoções. Já 38% vem da maneira como você fala, a dinâmica da sua voz: velocidade, tom, timbre. Somente 7% vêm das palavras, do conteúdo que é dito. Somente 7%!


Mehrabian dizia que as palavras são muito importantes, mas se você ignorar os 93%, você não vai captar o significado completo! Vamos para um exemplo? Já participou de uma palestra que prometia ser incrível em função do conteúdo e do currículo impecável do palestrante, mas ao chegar lá, se deparou com uma figura cabisbaixa, incapaz de se posicionar de acordo, despertando em você a vontade de sair correndo?


Pois então! É sobre isso que a Comunicação Total se propõe a abordar: os 100% da comunicação. Não somente o corpo, não somente as texturas e nuances da expressividade vocal, não somente o conteúdo que as palavras trazem. Mas sim, o alinhamento de todos estes elementos para uma comunicação eficaz e de impacto.


A Tríade: Emoção, Sentimento e Consciência


Emoção e sentimento são a mesma coisa? E a consciência, onde entra?


António Damásio, neurocientista português, pesquisa o caminho da expressão, da razão e da emoção. A primeira coisa que emerge no nosso corpo é a emoção. Se, por acaso, neste exato minuto uma porta bater ou tiver uma explosão, seu corpo vai reagir. Não tem como esconder a emoção: você pode ficar vermelho, suar frio, ter tremedeiras... Ela acontece na carne! No segundo momento, existe a vivência desta emoção: o sentimento! Este sim, podemos optar por manter em segredo, não manifestar livremente. Somente após estes dois processos é que vem o processo da consciência.


É importante entender essa tríade porque a consciência se manifesta, geralmente, sob a forma de ideia, de pensamento. Mas muito antes disto, já se manifestaram emoção e sentimento. E, claro, tudo isto já foi comunicado pelo seu corpo, pelas suas reações, pela sua postura.


Sabendo deste processo, a fala do corpo passa a adquirir uma nova importância. O que, até então, pudesse passar desapercebido por você, agora passa a adquirir sentido. Você se torna mais alerta e observador, levando em consideração não somente as palavras, mas também, o inconsciente impresso nas reações espontâneas de quem está à sua frente. E isto é incrivelmente poderoso: você lê nas entrelinhas! Afinal de contas, o mais importante não é entender o que está sendo dito, mas aquilo que não está sendo falado!

Agora eu pergunto: e se fizermos o caminho inverso? E se, a partir da consciência (vontade e intenção), pudermos afetar nossos sentimentos e, consequentemente, influenciar nossas emoções?


Mas como fazer isso? Propondo movimentos, atitudes corporais e gestos! Você faz a contra-efetuação: por uma vontade você se coloca disponível para acessar as camadas dos sentimentos e, por fim, das emoções. Este processo, diga-se de passagem, é o caminho do ator em cena!

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Que tal, então, você se tornar mais atento ao seu próprio corpo e levar estas ideias para a vida cotidiana? Comece aos poucos, observando como anda na rua, como seu corpo se comporta perto das pessoas de convívio diário. Fique atento ao que você pode estar comunicando para além do script decorado da vida de todo dia. E proponha novas maneiras de caminhar, de realizar pequenas ações. Se está andando muito cabisbaixo, respire fundo e erga a cabeça, olhe para a linha do horizonte. Observe as sensações que este andar lhe traz. Procure uma respiração confortável ao final do dia. E, principalmente, escute para além dos seus pensamentos. 93% está sendo dito para você mesmo, nas entrelinhas!