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No artigo ?Por que eu escolhi a Mímica? mencionei sobre a transformação que esta arte proporcionou tanto na minha vida pessoal, como também, em relação aos meus valores e visão de mundo, gerando um novo entendimento da minha potencialidade criativa na vida profissional. E, classifiquei todos estes ensinamentos adquiridos, inicialmente com o meu grande, Mestre Desmond Jones, em Londres, como os ?Os Dez Mandamentos da Mímica?.


Hoje, nesse artigo, gostaria de aprofundar dois destes dez mandamentos: Habitar o Palco Nu e A Escuta do Silêncio. Ao longo dos meus trinta anos de carreira, estes dois mandamentos me inspiraram a compreender o fluxo da criação de uma maneira muito especial. Pude observar que essa prática envolve não somente a CRIATIVIDADE, como também a INOVAÇÃO. Todos nós somos criativos mas, durante a nossa jornada, os bloqueios podem se acumular interrompendo o nosso fluxo de criação. Como lidar com estes bloqueios? Como exercitar nossa potencialidade de criação para nos colocarmos no próprio centro criativo?


A primeira coisa é dedicarmos um momento para a reflexão sobre essas duas palavrinhas: criatividade e inovação. Aí você me diz ?Mas Luis, a criatividade e a inovação não são a mesma coisa no final das contas??. Não! Tem muita gente criativa que não é inovadora. Nós mesmos podemos passar uma vida inteira sendo criativos, porque a criatividade tem a ver com o nosso mental, a maneira como damos asas para os nossos desejos criativos, nossa imaginação. Já a inovação é a ação! Para colocarmos as nossas criações para o mundo é necessário adquirir esta postura inovadora. E é sobre isto que vamos refletir.


Durante estes trinta anos, cheguei num método que potencializa o caminho entre a criatividade e a inovação. Para ampliar ao máximo o estado criativo, percebi que é preciso passar por nove pilares. Esse caminho fortalece um estado de criação libertador, sem limites, que torna possível corporificar a inovação que as nossas obras exigem! Sei que não é fácil, especialmente porque aprendemos desde criança a ouvir muitos NÃOS aos nossos pensamentos internos ?malucos? e, com isso, vamos nos limitando a buscar a aprovação no externo, o sucesso a partir da visão do outro ? isto, sem dúvidas, acaba por bloquear a nossa capacidade criativa.


Compartilho, a seguir, os nove pilares que o estado criativo e inovador nos convida a experimentar. São fundamentos entendidos a partir da minha caminhada profissional, frutos das minhas pesquisas, que me auxiliaram a ganhar prêmios, a manter o meu espaço que virou centro de referência de pesquisa da mímica total aqui no Brasil, e, principalmente, que mantém a minha potência de vida ativa! Vem comigo!


Os Nove Pilares para ampliar a Criatividade e o Poder da Inovação

1.   TEMPO

Demarque um tempo para si mesmo, para mergulhar na sua criatividade. Escolha o seu momento, faça o seu tempo acontecer. Se você tem uma hora e meia por dia, esse será um momento sagrado! Distancie-se das trivialidades cotidianas que te roubam o foco e que atrapalham seus pensamentos. Desconecte-se do externo para voltar-se para dentro. Avise a família, os amigos: ?estou no meu momento criativo. Não me interrompa, por favor?. Desligue o celular. Acredite em mim: é muito mais fácil nos deixarmos prender pelas trivialidades cotidianas do que encarar esta uma hora e meia focada para a criação. Por que? Porque as trivialidades são mais fáceis de resolver. O estado criativo nos convida ao desconhecido. A nossa tendência é sempre fugir deste desconhecido, num primeiro momento!


2.   ESPAÇO

Um lugar físico para que você possa reconhecer como ?o lugar em que eu posso soltar meus bichos, dar asas para o meu caos criativo?. É muito importante que seja um espaço acolhedor para que seu surto criativo seja recebido e desenvolvido sem julgamentos, sem limites. Pode ser seu quarto, sua sala, um parque, a casa de um amigo... mas tem que ser um espaço que você reconheça como o seu oásis da criação. Esse ritual do espaço é muito importante, pois ele extrapola a sua finalidade cotidiana e passa a te ajudar na corporificação das suas ideias.


3.   ARQUÉTIPO DO SONHADOR

Tempo e espaço garantidos, é hora de invocar os arquétipos para auxiliar na sua jornada! O arquétipo do sonhador é fundamental para você iniciar a criação, pois ele não tem limites, não trabalha no campo das possibilidades. Ele te leva além, para o campo das impossibilidades, trazendo a liberdade e o infinito para você despejar todos os seus impulsos e desejos criativos, todas as suas ideias! Não tem filtro, nem crítica. Não se preocupa em agradar ou a se posicionar nos campos do certo ou do errado. Ele precede esse momento justamente porque trabalha no surto criativo! Ele é o seu MODO ABERTO da criação. E, anote esta preciosidade: ele é o seu MÁGICO SIM! É o sim que você diz à sua primeira ideia, ao seu primeiro pensamento. Por exemplo, se você tem a ideia de iniciar uma obra voando, o sonhador não vai se preocupar em como fazer isso. Ele vai te levar adiante: o que vai acontecer durante o voo? Ou depois do voo?


Especial atenção ao nosso crítico interno, aos nossos censores neste momento: eles tendem a aparecer com tudo e cortar as nossas asas! Não permita! É importante nos aventurarmos nos campos das impossibilidades e nos divertirmos com isto!


4.   REALISTA

O arquétipo do realista age da seguinte maneira: ?Legal, Luis, você vai voar! Bacana! Mas agora me conta, COMO você vai fazer isso?? ? é chegado o momento de adentrar no campo das possibilidades. É necessário passar para o campo da avaliação para conseguir viabilizar a ideia que o arquétipo do sonhador me encorajou. Nesta fase, as técnicas corporais e os nossos conhecimentos são essenciais para que possamos corporificar o sonhador! Mas o realista não pode entrar antes, caso contrário ele limita o campo criativo do seu primeiro impulso, do seu primeiro pensamento. Ele chega neste momento para corporificar o sonho e faz com que seja compartilhado de maneira concreta e objetiva!


5.   CRÍTICO

Atenção! O arquétipo do crítico não entra para destruir ou eliminar a sua criação. Ele entra de maneira saudável e construtiva, para fortalecer os elementos que estão frágeis! Retomando o exemplo do protagonista que inicia sua obra voando. O sonhador propôs, o realista buscou instrumentos e ferramentas para viabilizar e corporificar este surto criativo. Então o crítico chega, observa e PROPÕE COMO FORTALECER a ação criada. Ele faz uma provocação não para que você se bloqueie ou estanque esse processo, mas para que você siga adiante fortalecendo as fragilidades iniciais que compõem a sua obra criativa! A pergunta que guia esse arquétipo é: ?Como posso fortalecer esse momento que está mais frágil??


6.   HUMOR

Papo sério agora: não adianta nada criar sem humor! O humor é fundamental no processo criativo, pois expande a consciência que você tem de si mesmo e da situação em que você se encontra. Ele deixa o modo da criatividade aberto e faz com que deixemos de nos preocupar com o fracasso ou com o sucesso. Entramos na brincadeira, em que o errar é bem-vindo, em que os tropeços e as quedas fazem parte. Inúmeras pesquisas comprovam a eficácia do riso como ferramenta para eliminar as tensões. E ao elimina-las, potencializamos o fluxo da criação. O arquétipo do humor é o salvador, que se diverte com os erros e as imperfeições. Enquanto o nosso crítico interno pode se transformar no grande terror, o humor é aquele que nos alivia, nos salva, torna a jornada mais leve. E, assim, podemos seguir para o próximo estágio: o desapego!


7.   DESAPEGO

Desapegar do nosso ego e da nossa dignidade. ?Nossa, Luis, como assim? Abrir mão da minha dignidade??. Sim, é isto mesmo! Quando eu proponho o desapego egóico é o desapego do ego não saudável, que se apega demasiadamente à sua criação, ou melhor, à idealização de sua criação, sem espaço para que a criação flua! Quanto à dignidade, tem algo mais incrível do que ver um artista entregue ao seu ofício, ao personagem criado, vivenciando sua potência criativa ao máximo a partir da corporificação do seu sonho inicial? Charles Chaplin, Jerry Lewis! Artistas que se entregavam de cabeça aos personagens que criavam, sem medo do ridículo, não se importando com o ego que atrapalha com suas crenças negativas e que bloqueiam o fluxo criativo. Entrar no estado sem vergonha mesmo: em que você se livra do seu ego não saudável, da "pseudo dignidade" restritiva e abraça a realização das grandes obras!


8.   TEMPO

?Outra vez o tempo, Luis?? ? Sim! Outra vez! Mas desta vez é o tempo da maturação. Explico: John Cleese, ator e roteirista britânico que fazia parte do Monty Python, disse, certa vez, que havia escrito um roteiro e quando foi procura-lo notou que o havia perdido. Não teve jeito, teve que sentar e puxar a ideia da memória novamente e reescrever tudo. Roteiro pronto e entregue, algum tempo depois encontrou a primeira versão. Comparando as duas, pode perceber o quanto a segunda versão estava mais criativa, mais consistente. Ele concluiu que isso se deu porque havia tido um tempo ali de amadurecimento, de novas vivências. Não se esqueça da qualidade que a ação do tempo pode conferir à sua obra. Encontre seu tempo cronológico de criação, tenha seu espaço físico para acolher seu surto criativo. Invoque os arquétipos, traga o humor e o desapego. E então pratique para que o tempo possa maturar a técnica, encorpar a sua obra!


9.   GUERREIRO

E agora chegamos ao nono pilar! O arquétipo mais importante nesse processo todo, que está diretamente ligado à inovação: o guerreiro! Depois de toda essa jornada é hora de levar sua obra para ganhar o mundo e a chegar nas pessoas. Nem preciso dizer que é neste momento que podemos recuar em função do medo!


Existe dois tipos de medo: o medo bom, saudável, que nos protege, nos salva a vida e está conectado com nosso instinto de sobrevivência; e o medo não saudável, que nos paralisa. Este medo paralisante sempre aparece quando nos deparamos a uma oportunidade de crescimento, a um novo desafio diante de algo novo e desconhecido. E esta situação nos exige uma atitude, um posicionamento frente ao que a vida nos traz, caso contrário, nos impedimos de viver plenamente.


É para auxiliar a enfrentar este medo que o Guerreiro surge! Veja bem, a coragem não é um estado de ausência de medo, mas sim o estado de enfrentamento deste medo. Ele está lá, existe. E a força do Guerreiro surge para auxiliar neste momento: seja para apresentar um projeto, seja na estreia de uma peça, seja saltar para outras situações que a vida traz. O frio na barriga dá sinais, você respira fundo e se conecta com esse Guerreiro interior e vai: apresenta seu projeto, entra inteiro naquele palco em dia de estreia, salta para a vida!


Inovação sem a ação não acontece. Se essa energia de ação e realização do Guerreiro não entrar em cena, você pode ser uma pessoa muito criativa com muitos projetos, mas que ficarão somente para você. Para ganhar o mundo, tem que ter o movimento! O Guerreiro vem para te dar asas reais para que você possa voar!


E é aí que entra o modo de criação sem limites: ocupar o palco nu, entrar em contato com o silêncio, ouvir suas vozes interiores, suas loucuras criativas... e então se deixar disponível para acessar esses nove pilares da criatividade e da inovação.

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Certa vez, me perguntaram, qual tinha sido meu maior medo. Com certeza o medo do fracasso, da exposição. Entrar nesse modo aberto da criação, do mágico SIM e trazes estes arquétipos junto comigo foi e é essencial para que continue avançando sem limites criativos. Nunca se esqueça: quando sentir medo, preste atenção! Ali existe a possibilidade de crescimento, de expandir territórios, de criar sem limites!